Queria partilhar com vocês um texto muito interessante que resgatei quando fui preparar um material sobre os Diminutivos e Aumentativos. Já devia ter posto aqui mas nao sei porque não o fiz.
Gosto deste texto porque é suave, tem um tom de humor.. e fala dos diminutivos, claro... e acho que para começar uma aula sobre o assunto pode ser útil.
Aqui vai o texto então...Espero que gostem.
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DIMINUTIVOS
Suamos diminutivos por todos os poros, é um exagero. Talvez seja resultado dos nossos brandos costumes, talvez, às vezes, de uma certa, embora ignorada, subserviência. Já o Melchior do Eça falava das enxergazinhas no chão. E depois, que lá pelos lençoizinhos respondia ele. «A gente apanhada sem um colchãozinho de lã, sem um lombozinho de vaca (...). Ele sempre é uma leguazita de mau caminho...).
Somos o Zé Povinho, para começar. Estamos malzinho, coitadinhos, ou estamos bonzinhos, acontece. Estamos também piorzinhos, melhorzinhos, obrigados, melhor, obrigadinhos. Começamos a trabalhar cedinho, voltamos para casa à tardinha, à noitinha conforme as estações. Às vezes está fresquinho, cai uma chuvinha fria, mas no Verão ainda há uma restiazinha de sol, um calorzinho bom, sabe bem caminhar devagarinho. Chegamos ao exagero de dizer que agorinha mesmo vamos sair, mas caludinha, não nos demoramos, vamos depressinha e então até loguinho. É pertinho onde vamos. É longinho às vezes. Não estamos nadinha preocupados com isto ou com aquilo. Mas então, nadinha.
Chegamos pois ao exagero dos advérbios, das conjunções e até das Interjeições em diminutivo — o que é um espanto para os estrangeiros que começam a aprender a nossa língua. Há, porém, limites que, talvez porque somos gente — ou gentinha — muito receosa do ridículo — daquilo que para nós é ridículo, naturalmente — por nada deste mundo ultrapassamos.
É-nos, por exemplo, impossível conhecer os nossos políticos por diminutivo. Ora isso é frequentíssimo no Novo Mundo. Os Irmãos Kennedy eram — são — conhecidos por Jack, Bob e Ted. Carter é Jimmy (Jaiminho).
Nós temos, porém, a nossa noção do ridículo e não podemos ultrapassá-la. Ela é uma das coisas mais duradouras e profundas que, tantas vezes sem o saber, herdámos, conservamos intacta e vamos deixar aos que ficam. Os nossos políticos podem pois estar tranquilos. Por mais que gostemos deles nunca lhes chamaremos Toninho nem Lourdinhas.
Suamos diminutivos por todos os poros, é um exagero. Talvez seja resultado dos nossos brandos costumes, talvez, às vezes, de uma certa, embora ignorada, subserviência. Já o Melchior do Eça falava das enxergazinhas no chão. E depois, que lá pelos lençoizinhos respondia ele. «A gente apanhada sem um colchãozinho de lã, sem um lombozinho de vaca (...). Ele sempre é uma leguazita de mau caminho...).
Somos o Zé Povinho, para começar. Estamos malzinho, coitadinhos, ou estamos bonzinhos, acontece. Estamos também piorzinhos, melhorzinhos, obrigados, melhor, obrigadinhos. Começamos a trabalhar cedinho, voltamos para casa à tardinha, à noitinha conforme as estações. Às vezes está fresquinho, cai uma chuvinha fria, mas no Verão ainda há uma restiazinha de sol, um calorzinho bom, sabe bem caminhar devagarinho. Chegamos ao exagero de dizer que agorinha mesmo vamos sair, mas caludinha, não nos demoramos, vamos depressinha e então até loguinho. É pertinho onde vamos. É longinho às vezes. Não estamos nadinha preocupados com isto ou com aquilo. Mas então, nadinha.
Chegamos pois ao exagero dos advérbios, das conjunções e até das Interjeições em diminutivo — o que é um espanto para os estrangeiros que começam a aprender a nossa língua. Há, porém, limites que, talvez porque somos gente — ou gentinha — muito receosa do ridículo — daquilo que para nós é ridículo, naturalmente — por nada deste mundo ultrapassamos.
É-nos, por exemplo, impossível conhecer os nossos políticos por diminutivo. Ora isso é frequentíssimo no Novo Mundo. Os Irmãos Kennedy eram — são — conhecidos por Jack, Bob e Ted. Carter é Jimmy (Jaiminho).
Nós temos, porém, a nossa noção do ridículo e não podemos ultrapassá-la. Ela é uma das coisas mais duradouras e profundas que, tantas vezes sem o saber, herdámos, conservamos intacta e vamos deixar aos que ficam. Os nossos políticos podem pois estar tranquilos. Por mais que gostemos deles nunca lhes chamaremos Toninho nem Lourdinhas.
Maria Judite de Carvalho, in O Jornal, 31/10/1979.
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